Trilha do Ouro: travessia de 3 dias pela Serra da Bocaina

A Trilha do Ouro é uma das experiências mais incríveis para quem ama ecoturismo e trekking. Esta rota histórica, que conecta São José do Barreiro (SP) à Vila de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ), oferece uma imersão única na natureza, com paisagens deslumbrantes, cachoeiras e uma rica história.
Atravessando o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a trilha segue um antigo caminho usado por indígenas, tropeiros e traficantes para transportar o ouro de Minas Gerais e o café de São Paulo até o litoral fluminense.

Considerada uma das melhores opções de trekking no Brasil, a Trilha do Ouro oferece uma aventura de 50 km cheia de história e desafios pela Serra da Bocaina. Se você está procurando por um trekking dinâmico e repleto de belezas naturais, a Trilha do Ouro é o destino certo.
Neste guia completo, você encontrará todas as informações essenciais para se aventurar nessa trilha e aproveitar ao máximo a sua experiência.
História da Trilha do Ouro

Mais do que uma travessia com paisagens deslumbrantes, a Trilha do Ouro é um percurso cheio de história.
Os caminhos que hoje percorrem os trilheiros, são originalmente trilhas de indígenas. No século XVII, com a criação do Caminho Velho da Estrada Real, que liga Ouro Preto (MG) a Paraty (RJ), esse trajeto entre São José do Barreiro e Angra dos Reis se tornou um “descaminho” do ouro. Ou seja, um caminho clandestino usado por traficantes que queriam fugir dos impostos portugueses.
Por ser uma rota não oficial, também era usada por indígenas, traficantes de escravizados e depois por tropeiros que cortavam as serras da região.

Depois, quando o Vale Histórico Paulista, onde fica São José do Barreiro, se tornou uma potência na produção de café, os barões da região financiaram a construção de um calçamento de pedras com mão de obra escravizada para escoar a produção de café com mais velocidade.
Podemos andar por esse calçamento em boa parte da travessia, tornando a Trilha do Ouro ainda mais fascinante.
Como é a travessia da Trilha do Ouro
Publiquei no YouTube um vídeo completo sobre como é a Trilha do Ouro, com muita informação e dicas para você que presente fazer essa travessia pela Serra da Bocaina. Aproveite também para se inscrever e acompanhe todas as nossas viagens e trilhas por lá.
Dia 1 – Cachoeira Santo Isidro e Cachoeira das Posses

O primeiro dia de travessia começa às 6h20, quando uma van nos busca no hotel e leva até a entrada do Parque Nacional da Serra da Bocaina, que fica a 1 hora do centro de São José do Barreiro.
Depois de uma reunião de briefing, iniciamos de fato a trilha. Ela começa na portaria do Parque Nacional da Serra da Bocaina, em São José do Barreiro, e percorre 19 km, alternando trechos de subida e descida.

Neste dia, passamos por duas cachoeiras. A primeira é a Santo Isidro, que fica a apenas 2,5 km do início da trilha, e é uma das mais bonitas do parque. Já a segunda é a Cachoeira das Posses, que fica na metade do caminho do primeiro dia, e onde fizemos nossa pausa para o lanche.

Contando as paradas de descanso e nas cachoeiras, o primeiro dia tem 7 horas de atividade. Começamos a trilha às 8h e chegamos no abrigo às 15h.
A primeira hospedagem é a Pousada Barreirinha, casa do Seu Tião, um senhor super simpático e bondoso. Fomos recebidos com tanta simplicidade, que parecíamos da família. Chegamos com aquele cafezinho preparado no fogão a lenha que foi como um abraço depois dos 19 km percorridos.

A hospedagem é bem simples, com energia elétrica limitada, mas com chuveiro aquecido e uma boa cama para descansar e recarregar as energias. O jantar e o café da manhã do Seu Tião estavam divinos, com aquele gostinho de comida de avó.
Dia 2 – Cachoeira dos Veados

O segundo dia é o mais tranquilo da travessia. São cerca de 14 km no total, apenas de descida, passando por pastos e poucas áreas de mata fechada. Neste dia, começamos a ver o calçamento histórico construído pelos escravizados para escoar o café da região. Essa construção impressionante nos acompanha até o final da trilha, em Angra dos Reis.
Iniciamos as atividades às 6h30 e chegamos na hospedagem do Zé do Zico às 11h30, onde paramos para fazer um lanche e partir para a cachoeira mais bonita da travessia.
A Cachoeira dos Veados fica a 20 minutos do abrigo. Podemos deixar tudo na casa e caminhar mais leves até esse espetáculo da natureza. A cachoeira tem duas quedas d’água, que somadas chegam a 100 metros de altura. É realmente impressionante!

Ficamos na cachoeira por mais de 1 hora e depois voltamos para o Zé do Zico. O local fica do lado do Rio Mambucaba, com áreas para banho, e podemos aproveitar o restante da tarde por lá.
A casa tem estrutura ainda mais simples do que a primeira hospedagem, mas ainda com energia limitada e banho quente. Os quartos são compartilhados. Nosso jantar e café da manhã também foram bons.

O Zé do Zico oferece o serviço de descer as mochilas até o final da trilha de mula (consultar o valor no dia). Para quem estiver com dores, é uma boa opção, já que o último dia é o mais complicado.
Dia 3 – Calçamento histórico

O terceiro dia exige mais técnica e preparo físico. São 16 km de descida, com trechos que alternam o calçamento de pedra e barro. O bastão de trilha é essencial para esse dia e os escorregões uma certeza.
A caminhada precisa de muita atenção e paciência, pois a progressão é lenta. É no terceiro dia que cruzamos a divida dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, chegando em Angra dos Reis. O clima também já fica mais abafado, diferente do friozinho da Serra da Bocaina.

Já no final da trilha, fazemos uma pausa no chamado Poço das Ninfas, uma pequena piscina natural ótima para se refrescar depois da descida cansativa.
Iniciamos a trilha por volta das 6h30 e fechamos o trekking no sertão da Vila de Mambucaba às 13h45. Almoçamos e tomamos banho no Sítio São Jorge, também com estrutura simples, mas bem honesta.
Por volta das 16h, voltamos de van para São José do Barreiro, fazendo duas paradas para ir ao banheiro e comer alguma coisa. Nossa jornada só terminou 20h30, quando chegamos no hotel.
Como estávamos todos juntos, aproveitamos para jantar na cidade e continuar conversando sobre a jornada que percorremos nos três dias de aventura.
Agência para fazer a Trilha do Ouro

Contratar uma agência com guias Cadastur (Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos) é fundamental para garantir uma experiência segura na Trilha do Ouro.
A travessia de 50 km no Parque Nacional da Serra da Bocaina passa por lugares isolados, sem sinal de celular e com acesso difícil. Por isso, estar com guias experientes, que conhecem a região, é essencial.
Realizei a trilha com a Bocaina Experience, receptivo turístico de São José do Barreiro, com anos de atuação na cidade e guias locais credenciados pelo Cadastur.
A agência faz a trilha de maio a setembro, meses com clima ameno e menos chuvas, o que torna a travessia mais agradável e segura. Fora deste período, a experiência pode se tornar perigosa por conta das condições climáticas.

A Bocaina Experience também oferece exclusividade nos abrigos, ou seja, você não dividirá o espaço com outros grupos, garantindo mais privacidade e um atendimento personalizado. Isso torna a experiência muito mais tranquila e intimista.
Além disso, a trilha é realizada com dois guias, o que é essencial para garantir um atendimento de qualidade e uma jornada segura.
Outro fator importante é que a travessia é feita em 3 dias e 2 noites, o que deixa o roteiro melhor distribuído e menos desgastante, com tempo para aproveitar os principais atrativos do percurso.
Depois de finalizar a expedição, ainda ganhamos um certificado personalizado de conclusão da trilha. Achei sensacional!
Para entrar em contato com a Bocaina Experience, é só mandar um WhatsApp para o número (12) 98176-6721 e falar que foi indicação do Pegamos Uma Estrada.
Vantagens de fazer a Trilha do Ouro

Se você quer se desafiar e entrar no mundo das travessias, a Trilha do Ouro é uma ótima escolha. Apesar de serem 50 km de caminhada, eles são bem distribuídos entre os três dias, com um bom tempo de descanso para se recuperar para o dia seguinte, contando que chegamos nas hospedagens no início da tarde.
A principal vantagem da Trilha do Ouro são as casas dos colonos onde nos hospedamos no meio da Serra da Bocaina. Como você janta, dorme e toma café da manhã nos abrigos, não é necessário levar muita comida e nem barraca. É menos peso e mais conforto para fazer a trilha.
Outra vantagem importante que diminui o peso da mochila são os vários pontos de água pela trilha. Levar 1,5 litro de água e ir repondo a garrafinha é o suficiente. Banho quente é outro privilégio no meio da Serra da Bocaina, que deixa essa travessia ainda mais atrativa.
Tirando essas “mordomias”, o caminho também tem paisagens lindas e está cheio de cachoeiras. Não é à toa que a Trilha do Ouro é considerada um dos melhores trekkings do Brasil.
O que levar para a Trilha do Ouro

Para fazer a travessia da Trilha do Ouro em três dias, é preciso levar alguns itens essenciais para não passar perrengue no Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Recomendo uma mochila de, no mínimo, 25 litros para carregar tudo o que for necessário. Não faça igual eu que levei uma de 20 litros e tive que deixar a blusa de fora. Fez falta para me proteger do friozinho da Serra da Bocaina.
Como há café da manhã e jantar nas hospedagens, é necessário levar apenas snacks para “almoçar” e lanchar durante o dia. Recomendo ter uma boa quantidade de barrinhas de cereal, frutas secas, salgadinho e um chocolate para dar energia. De água, 1,5 litro é o suficiente, já que a trilha tem muitos pontos para repor a garrafa.

De roupas, o ideal é levar quatro camisetas, sendo algumas delas com proteção UV, uma calça, uma bermuda, uma blusa, roupa de banho, pijama e chinelo.
Já de acessórios, é importante ter bastão de trilha, toalha de microfibra, capa de chuva, carregador portátil, kit de higiene (escova de dente, sabonete e shampoo) e kit básico de primeiros socorros. Caso tenha um canivete, é sempre conveniente levar.
Hospedagem em São José do Barreiro

O Club dos 200 é a melhor opção de hospedagem para fazer a Trilha do Ouro. A grande vantagem é que o hotel oferece um café da manhã completo às 5h, horário que você vai acordar no primeiro dia.
Construído nos anos 1920, o Club dos 200 é um lugar histórico. A hospedagem era frequentada por políticos, artistas e muitas personalidades importantes. Hoje, é um hotel acessível que ainda preserva sua arquitetura única.

Quando fiz a trilha (set/24), todo o grupo estava hospedado no Club dos 200 e a van foi nos buscar no hotel. Também pudemos deixar o carro estacionado na hospedagem.
Para mais informações sobre o Club dos 200, basta entrar em contato pelo WhatsApp (11) 91878-7957.
> Clique aqui para conferir o que fazer em São José do Barreiro
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