Serra do Mar: a importância histórica da ligação entre São Paulo e Santos

Serra do Mar
Vista da Serra do Mar

A história da ligação entre São Paulo e Santos é muito rica e cheia de fatos que moldaram nosso país. Já passaram pela região figuras importantes como João Ramalho, Cacique Tibiriçá, Martim Afonso de Sousa, Padre José de Anchieta, Dom Pedro I e muitas outras personalidades que contribuíram para a construção do Brasil.

O mais impressionante é que essa ligação é feita pela Serra do Mar, um paredão de 700 metros de altura, que fica em uma área com muita chuva, neblina e cercada pela Mata Atlântica.

Nem mesmo esse fator geológico importante impediu o progresso da região. São Paulo se tornou a maior e mais rica cidade do Brasil e o Porto de Santos o mais importante do país. E essa ligação entre as duas cidades foi fundamental para isso.

Peabiru

Caminho do Peabiru

Essa história começa antes mesmo da chegada dos portugueses ao Brasil. A Serra do Mar era ponto de passagem da Trilha dos Tupiniquins, caminho que atravessava São Vicente, Cubatão e São Bernardo do Campo.

O que pouca gente sabe, é que a Trilha dos Tupiniquins era um ramal do Peabiru, um caminho que ligava São Vicente a Cusco, no Peru. Isso mesmo, você não leu errado! Existiu um caminho que saía de São Vicente (havia outros ramais em Cananéia e Florianópolis) e chegava até Cusco, a capital do Império Inca. Ou seja, não se sabe por quanto tempo, os índios dos Andes tiveram contato com os povos que viviam aqui no Brasil.

A história desse caminho que levava até montanhas com ouro e prata rapidamente ficou conhecida pelos europeus, que logo montaram expedições para chegar até esse lugar. Pelos rios, nunca obtiveram sucesso. Já por terra, só a expedição comandada por Aleixo Garcia, que partiu de Florianópolis, em 1524, conseguiu voltar com poucos sobreviventes e alguns artefatos de ouro e prata roubados na Bolívia.

Fundação de São Vicente e São Paulo

Antônio Parreiras - Fundação de São Paulo, 1913
Quadro que retrata a fundação de São Paulo, pintado por Antônio Parreiras, em 1913

Foi também pela Serra do Mar que João Ramalho e Cacique Tibiriçá guiaram Martim Afonso de Sousa, fundador de São Vicente, a primeira vila do Brasil, até o Planalto de Piratininga, em 1532. Foi um episódio importante para o país, já que mostrou aos portugueses que ali existia uma grande tribo indígena aliada.

Pouco tempo depois, por volta de 1554, a Trilha dos Tupiniquins começou a ser evitada pelos colonizadores por conta de guerras entre índios e portugueses. Por isso, um novo caminho foi aberto em 1560, seguindo a trilha que o padre jesuíta José de Anchieta usava para subir e descer a Serra. Essa trilha ficou conhecida como Caminho do Padre José.

Até esse ponto da história, essa região teve grande importância para a formação atual do Brasil. Martim Afonso de Sousa só fundou São Vicente, porque ali vivia um português com grande influência sobre os índios: João Ramalho.

A cidade de São Paulo também só foi fundada onde é hoje, pois ali ficava a aldeia do Cacique Tibiriçá, sogro de João Ramalho e aliado dos portugueses. Sem contar que São Paulo era ponto de partida para outras trilhas que ligavam várias partes do Brasil. Hoje, essas trilhas viraram as famosas rodovias Dutra, Fernão Dias, Raposo Tavares, Castello Branco, Régis Bittencourt, Anhanguera e Anchieta. Curiosamente, muitas delas receberam nome de bandeirantes, que usavam esses mesmos caminhos para caçar indígenas e explorar o interior do Brasil.

Calçada do Lorena

Calçada do Lorena- Serra do Mar
Calçada do Lorena

Mesmo sendo uma rota desgastante, a ligação entre São Paulo e Santos continuou usada por mais de dois séculos para o transporte de mercadorias que saíam e chegavam ao Brasil pelo Porto de Santos.

Para melhorar as condições dessa passagem, em 1790, começou a construção da Calçada do Lorena, o primeiro caminho pavimentado com pedras ligando o Planalto à Baixada Santista. Inaugurada em 1792, ela foi considerada uma grande obra de engenharia e teve grande importância para diminuir o tempo de viagem entre São Paulo e Santos.

Depois de 30 anos, a Serra do Mar presenciou um fato importantíssimo para a nossa história. Foi pela Calçada do Lorena que Dom Pedro I subiu a Serra, montado em uma mula, antes de proclamar a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822.

Era do café

Trem atravessando a Serra do Mar
Foto: Assessoria de Comunicação da RFFSA – Revista Ferrovia, edição 172, página 44

Desde então, a cidade de São Paulo cresceu bastante por conta das plantações de cana de açúcar e café. Essa evolução exigiu a construção de um caminho mais moderno do que a Calçada do Lorena. Então, em 1841, foi inaugurada a Estrada da Maioridade, uma estrada de terra que poderia ser usada por carros de boi. Ela diminuiu ainda mais o tempo de viagem entre o Planalto e a Baixada Santista e facilitou o transporte de mercadorias.

Já na segunda metade do século XIX, com a mudança definitiva das plantações de café do Vale do Paraíba para o Oeste Paulista, foi necessário construir uma linha de trem para transpor a Serra do Mar e escoar o produto mais rápido e em maior quantidade. Vale lembrar que, na época, o Brasil era o maior produtor de café do mundo.

Então, em 1867, entrou em operação a linha férrea da São Paulo Railway Company, que ligava Jundiaí a Santos, atravessando a Serra do Mar pela Vila de Paranapiacaba. Por quase 70 anos, essa foi a única ferrovia com acesso ao litoral paulista. Isso só mudou com a inauguração da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1935, que liga Mairinque a Santos.

Rodovias

Estrada Velha de Santos

Enquanto as ferrovias eram construídas, a Estrada da Maioridade, que havia mudado o nome para Estrada Vergueiro, passou por uma grande modernização em 1920. Ela foi reformada e se tornou a primeira estrada pavimentada com concreto da América Latina. Nesse período, ela ganhou o nome que leva até hoje: Caminhos do Mar.

Já em 1947, com a inauguração da Via Anchieta, a rota passou a ser um trajeto secundário e, em 1985, nove anos depois construção da pista sul da Rodovia dos Imigrantes, ela fechou para o tráfego de veículos. Hoje, ela é um polo turístico que explica um pouco da história da região. Nós já visitamos o parque e contamos todos os detalhes aqui neste post.

Importância econômica

Porto de Santos
Foto: Porto de Santos

Atualmente, a ligação entre São Paulo e Santos é muito importante para a economia do Brasil. De acordo com dados do Complexo Portuário de Santos, 25% da balança comercial brasileira passa pelos navios que atracam no porto. Consequentemente, podemos afirmar que toda essa riqueza sobe e desce a Serra do Mar diariamente pelas ferrovias e estradas da região.

Ou seja, por mais de 500 anos esse caminho foi fundamental para a construção do Brasil. E tudo leva a crer que ele continuará relevante por muitos e muitos anos da nossa história.

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